Última alteração: 2023-10-05
Resumo
A presente comunicação tem por objetivo destacar a participação dos músicos ─ estudantes, amadores e profissionais, especialmente negros e mestiços ─, no movimento abolicionista e atuantes nas chamadas 'Conferências Emancipadoras'. Busca-se reinserir tais indivíduos naquele que é considerado um dos principais movimentos sociais da história brasileira, invisibilizados pela historiografia, musicologia histórica, estudos sociais interdisciplinares e consequentemente ausentes dos currículos escolares ou das práticas musicais contemporâneas. O processo de apagamento se afirmou no período do pós-abolição quando escritores, memorialistas e jornalistas optaram por assegurar primeiramente os nomes consagrados nos meios musicais da elite. Esse trabalho parte de uma pesquisa em processo, que busca analisar como performances e repertórios específicos foram utilizados para ampliar a participação popular na campanha. Teve como metodologia um levantamento rigoroso nos principais periódicos cariocas que, cotejados com novas fontes documentais, serviram para desvendar parcialmente aqueles corpos, vozes e suas criações musicais. Ao contextualizar historicamente o ativismo desses artistas junto aos movimentos sociais busca-se destacá-los como agentes de educação musical não formalizada no ambiente escolar e abrir diálogos com as políticas de enfrentamento ao racismo, apontando a forma como historicamente empreenderam a luta não apenas pelo fim da escravidão no país, mas pelo reconhecimento de seus gestos, gostos e estilos nos diversificados espaços públicos em que atuaram. Vale dizer, portanto, que músicos e compositores nas atividades antiescravistas performaram também suas próprias tensões no campo musical. Destacou-se aqui, especialmente, o violoncelista, pianista, professor, compositor e regente Horácio da Silva Campos Fluminense, cujo ativismo no movimento foi dos mais expressivos e duradouros.